top of page

Canon - EOS C200

Há uma maneira muito peculiar em observar a nova camcorder da Canon, modelo EOS C-200 e que está diretamente ligada à sua compatibilidade, com o espaço de cor ACES (Academy Color Encoding System), pois isso irá determinar com exatidão o seu mercado de atuação e sobretudo, impactará o seu Fluxo de Trabalho.

 

Historicamente, há uma enorme dissonância entre a expectativa do consumidor final e toda a engenharia desenvolvida para o cinema digital, e que ainda por cima, está no meio da estranha simbiose entre os universos da fotografia e do vídeo. Tudo acaba por fim, ser um grande emaranhado de informações conflitantes.


Sim, engenharia é uma palavra que pouco se compreende. Eu particularmente acredito, que a grande confusão instaurada hoje, é devida, a falta do entendimento a respeito da engenharia. Se observarmos cuidadosamente, a maneira como cada fabricante desenvolve a sua tecnologia e como a engenharia é aplicada, tudo ficará muito simples de avaliarmos.


A Canon EOS C-200 foi desenvolvida para o futuro, estando dentro dos padrões de engenharia ACES e abre com certeza, uma nova maneira de se fazer televisão e cinema. Mas afinal, o que seria o ACES ?



Quanto de luz e de cor o olho humano pode enxergar? Respondendo à esta simples pergunta, seria justo dizer, que foi mapeado pela engenharia, um espaço de cor específico para isso, representado na ilustração acima, aonde vemos uma grande variação de cores. Toda essa informação de luz e de cor é o nosso ponto de partida, porque é na verdade, tudo o que nós podemos enxergar. Isso faz sentido para vocês?


Conforme a tecnologia de transmissão de imagens foi sendo desenvolvida pela engenharia, uma porção cada vez mais ampla foi sendo alcançada e enxergada pelos equipamentos. É como se estivéssemos sempre em busca de igualar, os nossos equipamentos de imagens ao olho humano. A cada evolução, foi criada pela engenharia um padrão específico e inserido dentro de um espaço de cor. Cada espaço de cor têm uma definição técnica e que enxerga uma porção de tudo o que o olho humano pode ver. Agora ficou mais simples de entender os espaços de cor?


Por exemplo, a gravação e a transmissão de uma imagem em alta definição, possui o espaço de cor BT-709 (ou REC-709) e se observarmos na ilustração acima, entenderemos enfim, que estamos enxergando apenas uma pequena porção de tudo o que o olho humano pode enxergar.


Subindo na escala, o DCI-P3, é o espaço de cor utilizado para a exibição das imagens no cinema e possui enfim, uma porção maior do que podemos enxergar em relação à alta definição (BT-709). Percebam, que a cada novo espaço de cor desenvolvido pela engenharia, iremos enxergar mais e melhor.


Seguindo, o ITU-R BT-2020 (ou simplesmente REC-2020) é o espaço de cor definido para a transmissão da ultra alta definição (UHD) e que dá um salto gigantesco em relação ao DCI-P3 e BT-709. Percebam sobretudo, que a cor verde é muito mais alta e como esta cor determina o sinal de luz, seria justo afirmar, que este espaço de cor traz muito mais luz para todos nós. Enxergamos ainda mais.


Finalizando este raciocínio, o espaço de cor ACES (Academy Color Encoding System) vai muito além do que o olho humano pode enxergar e enfim, chegamos ao grande objetivo da engenharia, que era justamente igualar a tecnologia de gravação e de transmissão, ao olho humano. O ACES é um espaço de cor criado pela Academy of Motion Picture Arts and Sciences e possui uma série de padrões SMPTE (Society of Motion Picture and Television Engineers), que asseguram a preservação das cores durante todos os processos de gravação, edição e pós-produção.






Não é sempre que entendemos as aplicações de um novo equipamento e até, sem percebermos, fazemos comparações ou tentamos colocá-lo dentro de um segmento errado. Acredito que este seja o caso da Canon EOS C-200, quando fazemos projeções dentro do universo DSLR ou do vídeo. Esta é uma camcorder para cinema digital e que nos levará em um Fluxo de Trabalho, bem diferente do habitual.


Esta é a razão de eu ter aguardado alguns meses, para escrever e descrever este equipamento. Muitas vezes, é necessária a justa absorção das informações pelo mercado e seus consumidores. O ACES abre uma porta gigante para todos os profissionais, mas que precisam assimilar melhor tudo o que esse novo espaço de cor pode oferecer.






Uma série de opções de Fluxos de Trabalho são possíveis através da Canon EOS C-200 e cada qual, representa um caminho distinto. Partindo do princípio, encontramos a gravação interna através de arquivos RAW leves em 4K DCI (4.096 x 2.160), que oferecem uma redução significativa em seu tamanho final. Ainda assim, mesmo tendo uma redução aproximada entre 1/3 e 1/5 do seu tamanho original, esses arquivos serão um grande desafio na fluidez dos seus trabalhos.


Com uma taxa de gravação de dados de 1G bps (ou simplesmente 125 MB/s) podemos entender que o nosso Fluxo de Trabalho demandará inicialmente, um cartão de memória CFast 2.0 com a especificação técnica VPG 130, o que traduzindo para uma linguagem simples, assegurará a taxa mínima de gravação contínua de dados em 130 MB/s.






Importante ressaltar, que a gravação em formato RAW só é possível em 4K DCI (4.096 x 2.160) e isso fortalece ainda mais a sua concepção para o cinema digital. E ainda, a taxa de velocidade de quadros por segundo determinará inclusive a profundidade de cor, sendo de 12 bit para uma taxa de quadros simples (sem câmera lenta) e esta cai para 10 bit, quando aplicada uma taxa de quadros para câmera lenta.





A Canon EOS C-200 foi concebida para gravar simultaneamente, dois tipos distintos de mídia, tendo um compartimento para cartão CFast 2.0 e mais dois compartimentos para cartões SDXC, e claro, estamos diante de um Fluxo de Trabalho criado para mídias On-Line e Off-line. Esta é a estrutura criada para esta camcorder de cinema digital. Gravação em RAW leve, mais um arquivo Proxy.





Seguindo este raciocínio, de cinema digital, as proporções de aspecto mudam em relação ao que encontramos na televisão e seus 16:9. o 4K DCI e o 2K DCI possuem uma proporção de aspecto um pouco mais larga, sendo de 17:9. Enfatizo isso, porque sempre vejo ou recebo materiais para color grading em 16:9 e que terão como destino final o cinema em 17:9. Um erro muito comum hoje em dia e que tem a sua base diante da falta de conhecimentos ou de câmeras, que não gravam em 4K DCI.





Observando a ilustração acima, que descreve em detalhes todos os Fluxos de Trabalho viáveis, percebemos que toda a inovação necessita de tempo para ser absorvida, sobretudo pela integração com as estações de edição não-lineares e outros programas de color grading. Ainda é necessário tempo para que esses arquivos nativos RAW leves se tornem acessíveis e de fácil manuseio.


Hoje, a maneira mais fácil de editar um arquivo RAW leve da Canon EOS C-200, é através do programa de edição não-linear, Avid Media Composer, pois este dispõem de um plug-in desenvolvido pela própria Canon e que garante a sua leitura nativa e edição. Mas é claro, que isso é apenas parte da solução, pois se estamos falando sobre uma camcorder de cinema digital, o processo de color grading será tão, ou mais importante em nosso Fluxo de Trabalho.




O Avid Media Composer é um lendário editor de imagens e este posto, é mais do que merecido. A sua estabilidade em administrar mídias e projetos grandes e pesados, como num exemplo simples de um longa metragem, garantirá sempre a tranquilidade de todos os profissionais envolvidos. Hoje, encontramos algumas opções de plug-ins para color grading e que rodam dentro do próprio Avid Media Composer, como o Symphony e o Baselight.


Honestamente, eu sempre achei a questão de enviar um arquivo AAF ou XML para o programa de color grading um tanto arriscado e até, um grande dificultador num Fluxo de Trabalho. Por isso, pensando em projetos como filmes e séries para a televisão, documentários ou reportagens especiais, este tipo de plataforma, centralizada totalmente em Avid Media Composer e mais um plug-in de color grading, seja enfim, uma grande solução para este momento.





Avaliando justamente este impasse técnico, a Canon oferece gratuitamente, o programa Cinema Raw Development 2.0, que fará a conversão dos arquivos RAW leves para outras extensões, como Apple ProRes (em plataformas MAC), DPX RGB (10 e 16 bit) e também, Open EXR (ACES 1.0). Tudo isso, é claro, que me lembra de inúmeras outras câmeras e formatos novos, que necessitavam ser convertidos, antes da própria edição de imagens.


É aqui, que faço a minha maior reflexão sobre justamente os impactos, que a Canon EOS C-200 terá no nosso Fluxo de Trabalho e que de um maneira muito clara, transformará ou até mesmo, dificultará a sua fluidez e agilidade. Observando também um outro ponto de vista, aonde o espaço de cor ACES seja imprescindível, este processo de conversão de arquivos nativos para uma sequência DPX RGB 16 bit, torna-se enfim, necessária e obrigatória.


O programa Cinema Raw Development 2.0 assemelha-se muito, ao que a própria Canon, desenvolveu para os arquivos RAW da linha de câmeras fotográficas, mas ainda assim, muito longe em termos de funcionalidade e ferramentas. Em nada lembra, por exemplo, um Red CIne, que praticamente é um programa de color grading. Temos então, em essência, um programa de tradução entre espaços de cor e um gerador de listas para sequências de frames.





É muito provável, que num curto espaço de tempo, a grande maioria dos profissionais de edição e de color grading, estarão representados por esta fotografia acima, ou seja, pela interface do DaVinci Resolve, seja como programa, ou seja como hardware.


Os arquivos nativos da Canon EOS C-200 abrem perfeitamente dentro do DaVinci Resolve, com apenas uma exceção, a aba de funções RAW não está habilitada, ou seja, eu abro os arquivos, mas não acesso as possibilidades de alterar as configurações do RAW. É muito provável, que em breve esta aba seja habilitada, numa próxima atualização do programa, mas mesmo hoje, eu particularmente achei muito mais fácil, fazer as conversões de arquivos para ProRes, dentro do DaVinci, do que no Cinema Raw Development 2.0, mesmo perdendo as opções da aba de RAW.


E assim, uma nova possibilidade de Fluxo de Trabalho está disponível através do DaVinci Resolve, inclusive se eu desejar centralizar todos os processos dentro dele, como desde a edição até o color grading. Faz mais sentido, na questão de fluidez e agilidade. Enfatizo, é claro, que perder as funções do RAW, quebra qualquer tipo de raciocínio lógico e deprecia muito um investimento em uma camcorder, que grava RAW, mas tem uma certa dificuldade em ser lido pelos principais fabricantes de programas de edição e de color grading.


Tempo. A Canon C-200 precisa de tempo para o mercado assimilar as suas características mais importantes de seus arquivos nativos e sobretudo em propiciar novos Fluxos de Trabalho, baseados em espaço de cor ACES. Aliás, no passado eu já presenciei outros equipamentos, que diante do seu pioneirismo, sofreram certo tipo de prejuízo, justamente por estarem à frente de seu tempo.


Nessa matéria, a minha maior reflexão está na percepção de que todos nós temos nesse mesmo horizonte, um espaço de cor ACES, que em sua melhor e mais simples tradução, será o espaço de cor a ser conquistado e desenvolvido por todos nós. O horizonte é com certeza, um grande desafio.


A Canon EOS C-200 está destinada ao cinema digital e não devemos misturar os universos. É justa a razão de trazer à tona, o espaço de cor ACES, porque é o futuro do próprio cinema digital. Talvez, hoje ainda seja muito cedo para que esse espaço de cor se torne uma realidade, mas ainda assim, aponta e determina uma direção clara a tudo o que buscamos como profissionais.


Em muitas ocasiões, quando estava escrevendo esta matéria e acessando as informações vindas do fabricante, tive o impulso de questionar certas configurações técnicas, justamente por não fazerem sentido à outras câmeras e tecnologias. Novamente, diante das confusões e simbioses, que todos nós estamos envolvido, pude enfim clarear o pensamento e entender, que a Canon EOS C-200 é destinada ao cinema digital, e não deve ser concebida fora desse mercado.


 

Websites:

Canon (USA): link

Canon (EOS-C200): link

Canon (ACES): link

ACES: link

SMPTE: link

Avid Media Composer: link

Blackmagic Design DaVinci Resolve: link



bottom of page